sábado, 15 de junho de 2013

Situação de Aprendizagem – leitura

Meu primeiro beijo – Antonio Barreto

É difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...
Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares de bilhetinhos:
"Você é a glicose do meu metabolismo.
Te amo muito!
Paracelso"
E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de mulher...E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber que tipo de lance ia rolar.
No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, veio com o seguinte papo:
- Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia? - Fiz cara de desentendida.
Mas ele continuou:
- Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
- A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos 250 bactérias...
Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns segundos.
E de repente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto , juntos, o abismo do primeiro beijo.
Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos apaixonados por vária semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram... e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!
BARRETO, Antonio. Meu primeiro beijo. Balada do primeiro amor. São Paulo: FTD, 1977. p. 134-6.


Objetivo: Leitura em voz alta feita pelo professor para identificar o tom da crônica: poético, reflexivo, irônico ou humorístico.

Sondagem

Antes da leitura

1. Ativação do conhecimento prévio
- Conhecendo o autor: seu nome, um pouco sobre sua vida e suas obras. Observar que o texto “Meu primeiro beijo” foi tirado de sua obra “Balada do primeiro amor” e pode ser considerado crônica (assunto já estudado).
- Apresentação do livro

Balada do primeiro amor
Antonio Barreto

Neste livro Larissa, uma menina muito sensível, sofre pela ausência do pai, que por empresariar artistas acaba ficando muito tempo distante. Mas seu amigo Gustavo, integrante de uma banda a desafia a compor uma letra para que ele possa musicá-la, muito mais que isso no dia da apresentação ele lhe prepara uma surpresa.

- Quem se lembra das características de uma crônica?
- O que o título sugere? Como será a história, romântica ou engraçada?



Durante a leitura

1. Identificação das palavras-chave para a determinação dos conceitos veiculados.
 - Que palavras, já nas primeiras linhas, nos sugerem o tom da crônica?
 - Que efeito de sentido elas trazem?
 2. Esclarecimento das palavras desconhecidas
 - Quais são as palavras e o que elas significam?
 3. Confirmação ou retificação das antecipações ou expectativas de sentido criadas antes ou durante a leitura
 -Durante a leitura você confirmou suas hipóteses sobre o enredo?

Após a leitura

1. Construção da síntese semântica do texto
- Comparando suas expectativas com o desenrolar da história, como podemos sintetizar o enredo?
2. Elaboração de apreciações estéticas
- O que você achou do humor no texto?
- O que garantiu esse humor? Cite as palavras.
3. Percepção de outras linguagens (intertextualidade)
- Apresentação da música de Roberto Carlos, “Splish Splash”

Splish Splash!
Fez o beijo que eu dei
Nela dentro do cinema
Todo mundo olhou-me condenando

Só porque eu estava amando...

Agora lá em casa
Todo mundo vai saber
Que o beijo que eu dei nela
Fez barulho sem querer

Yeah!..

Splish Splash!
Todo mundo olhou
Mas com água na boca
Muita gente ficou
Hiê!
Hiê!
Splish Splash!
Hiê! Hiê!
Splish Splash! Splish Splash!
Splish Splash!
Splish Splash!
Ahran! Ahran! Ahran! Ahran!...


Splish Splash!
Fez o tapa que eu levei
Dela dentro do cinema
Todo mundo olhou-me condenando
Só porque eu estava apanhando...


Agora lá em casa
Todo mundo vai saber
Que tapa que eu levei
Fez barulho e fez doer
Yeah!..


Splish Splash!
Todo mundo olhou
Mas com água na boca
Ninguém mais ficou
Hiê!
Hiê!
Splish Splash! Splish Splash!
Splish Splash!
Hiê! Hiê! Hiê!
Hiê! Au!
Splish! Splish!
Splish Splash!...


Splish Splash!
Fez o beijo que eu dei
Nela dentro do cinema
Todo mundo olhou-me condenando
Aha! Aha!
Só porque eu estava amando...


Agora lá em casa
Todo mundo vai saber
Que o beijo que eu dei nela
Fez barulho sem querer
Yeah!..


Splish Splash!
Todo mundo olhou
Mas com água na boca
Muita gente ficou
Hiê!
Hiê!
Splish Splash! Splish Splash!
Aha! Aha! Aha! Aha! Aha!
Splish Splash!
Hiê! Hiê! Hiê! Hiê! Au!
Splish Splash!
Ahran!
Ahran!
Hiê! Hiê!
Ahran! Ahran!
Splish Splash!...


Anexo


Dados biográficos do autor
Antonio Barreto (Antonio de Pádua Barreto Carvalho) nasceu em Passos (MG) em 13 de junho de 1954. Reside em Belo Horizonte desde 1973. Morou também em algumas cidades do Oriente Médio, onde trabalhou como projetista de Engenharia Civil, na construção de estradas, pontes e ferrovias. Tem vários prêmios nacionais e internacionais de literatura, para obras inéditas e publicadas, nos gêneros: poesia, conto, romance e literatura infanto-juvenil. Participa também de várias antologias nacionais e estrangeiras de poesia e contos. Foi redator do Suplemento Literário do Minas Gerais, articulista e cronista do jornal Estado de Minas e da revista “Morada” (BH). Colabora com textos críticos, poemas e artigos de opinião para “El Clarín” (Buenos Aires), “Ror” (Barcelona); “Zidcht” (Frankfurt), “Somam” (Bruxelas); ” : e outros periódicos.
Disponível em: <http://www.palavrarte.com/equipe/equipe_antbarreto.htm> Acesso em 23 de abril de 2013.


Postado por: Eliana Freitas



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